Desmoronamentos

Retomando o tema da crise que está a abalar o capitalismo, originada pelo regabofe que se instalou no sector financeiro com a invenção dos famosos “produtos financeiros” e das não menos famosas e louvadas “engenharias financeiras”, que em sucessivos actos em cadeia que encobriam desmandos de grupos organizados, que fazendo-se pagar a si próprios e aos seus capangas verbas principescas, como hoje é reconhecidamente aceite, mesmo por quem colocou em risco dinheiros públicos em operações especulativas e por um vasto conjunto de especializados comentadores económicos e não só, que teciam loas em programas que serviam de rampa de lançamento aos chamados “crânios” de um sistema que se transformou num pesadelo mundial.
Retomando, também, a ideia de que esta situação vem alterar profundamente a vida de pessoas e instituições, com especial incidência para os sectores mais débeis da sociedade, vitimas de uma paupérrima e injusta distribuição da riqueza, o que obriga a um novo olhar e a uma mudança de paradigma por parte das instituições com responsabilidades na organização da sociedade, que vá ao encontro da resolução dos problemas mais graves dos cidadãos e que imponha uma actuação mais consentânea com a nova realidade e a vida das pessoas. E não venham com a mistificação de que tudo aconteceu, somente devido à ganância. Não, tudo aconteceu devido ao carácter explorador do sistema capitalista, que é irreformável. Tudo o resto é areia para os olhos.
Agora, que os círculos políticos, económicos e financeiros já falam abertamente de que os 700 mil milhões que o “paraíso” capitalista aprovou para acudir à dramática situação que se vive nos EUA, são insuficientes para resolver a pressão do sistema financeiro e muito menos para evitar a recessão, o que inviabiliza o Plano Paulson, como se prova com os últimos desenvolvimentos em diferentes pontos do mundo, ouvem-se vozes, um pouco por todo o lado, reclamando que as medidas a tomar passem por outras soluções que tenham em conta o tecido produtivo, ou seja, que acudam os sectores que são os verdadeiros motores da economia real, os que produzem e criam a verdadeira riqueza.
Vejam os leitores como é injusto o sistema. Durante os últimos anos, o nosso País foi lançado numa enorme crise, retiraram-se direitos no plano social, emprego, saúde, educação, justiça e segurança aos que trabalham arduamente para sustentar as suas famílias. Da parte dos governos, sempre foi recusada qualquer ajuda para minorar as graves consequências, com o argumento mentiroso e desumano de que não havia meios. De repente, como por magia, os dinheiros públicos que faltaram para a política social, para combater a pobreza e a exclusão, apareceram para nacionalizar os prejuízos causados pela ganância criminosa dos que andavam em manobras especulativas e usufruíam chorudos salários. Lucros privados, prejuízos públicos. Uma vergonha.
Em Portugal, a crise já está instalada, a cada dia que passa mais se torna evidente a sua enorme dimensão, (a última 6ª feira negra é prova). A situação não se compadece com actuações demagógicas e eleitoralistas, de efeito nulo no curto prazo e que, só podem vir agravar a situação das empresas, consequentemente colocar em causa milhares de postos de trabalho, fomentando mais desemprego e lançando milhares de famílias numa situação ainda mais grave do que aquela que já vivem.
A actuação dos responsáveis europeus não podia ser mais irresponsável, primeiro reuniram a quatro, Alemanha, Inglaterra, França e Itália. Depois a 15, os do clube do euro. É assim a tal Europa Unida que eles falam. Quem pensa que ela existe, que ponha aqui os olhos. Melhores provas parecem difíceis de conseguir.
Há cerca de um mês, ao olhar para as páginas interiores de um jornal nacional, descobri uma pequena notícia que dava conta de o desmoronamento de parte do tecto do edifício onde funciona o Parlamento Europeu em Estrasburgo, que foi inaugurado há menos de dez anos. Adiantava ainda, que enquanto tal situação se mantivesse as sessões seriam transferidas para Bruxelas. Tão discreta noticia, deixou-me algo surpreso, mais a mais, tendo em conta o sensacionalismo da maioria da imprensa. Esperei desenvolvimentos, mas não, absolutamente nada. Só através de um artigo da deputada Ilda Figueiredo, tomei conhecimento de que se a queda do tecto tivesse acorrido em dia e hora de funcionamento, teriam morrido mais de trinta pessoas. Sabe-se que até este momento não foram esclarecidas as causas, que parecem resultar de deficiências dos materiais utilizados e da falta de fiscalização.
Considero estranha a atitude silenciosa da imprensa. E daí, talvez não. Afinal, trata-se apenas de o desmoronamento de um tecto...
O que é uma bagatela comparado com o terramoto que vai por esse mundo fora.
Carlos Vale - Membro da DORCB do PCP

Retomando o tema da crise que está a abalar o capitalismo, originada pelo regabofe que se instalou no sector financeiro com a invenção dos famosos “produtos financeiros” e das não menos famosas e louvadas “engenharias financeiras”, que em sucessivos actos em cadeia que encobriam desmandos de grupos organizados, que fazendo-se pagar a si próprios e aos seus capangas verbas principescas, como hoje é reconhecidamente aceite, mesmo por quem colocou em risco dinheiros públicos em operações especulativas e por um vasto conjunto de especializados comentadores económicos e não só, que teciam loas em programas que serviam de rampa de lançamento aos chamados “crânios” de um sistema que se transformou num pesadelo mundial.  

Retomando, também, a ideia de que esta situação vem alterar profundamente a vida de pessoas e instituições, com especial incidência para os sectores mais débeis da sociedade, vitimas de uma paupérrima e injusta distribuição da riqueza, o que obriga a um novo olhar e a uma mudança de paradigma por parte das instituições com responsabilidades na organização da sociedade, que vá ao encontro da resolução dos problemas mais graves dos cidadãos e que imponha uma actuação mais consentânea com a nova realidade e a vida das pessoas. E não venham com a mistificação de que tudo aconteceu, somente devido à ganância. Não, tudo aconteceu devido ao carácter explorador do sistema capitalista, que é irreformável. Tudo o resto é areia para os olhos.  

Agora, que os círculos políticos, económicos e financeiros já falam abertamente de que os 700 mil milhões que o “paraíso” capitalista aprovou para acudir à dramática situação que se vive nos EUA, são insuficientes para resolver a pressão do sistema financeiro e muito menos para evitar a recessão, o que inviabiliza o Plano Paulson, como se prova com os últimos desenvolvimentos em diferentes pontos do mundo, ouvem-se vozes, um pouco por todo o lado, reclamando que as medidas a tomar passem por outras soluções que tenham em conta o tecido produtivo, ou seja, que acudam os sectores que são os verdadeiros motores da economia real, os que produzem e criam a verdadeira riqueza.

Vejam os leitores como é injusto o sistema. Durante os últimos anos, o nosso País foi lançado numa enorme crise, retiraram-se direitos no plano social, emprego, saúde, educação, justiça e segurança aos que trabalham arduamente para sustentar as suas famílias. Da parte dos governos, sempre foi recusada qualquer ajuda para minorar as graves consequências, com o argumento mentiroso e desumano de que não havia meios. De repente, como por magia, os dinheiros públicos que faltaram para a política social, para combater a pobreza e a exclusão, apareceram para nacionalizar os prejuízos causados pela ganância criminosa dos que andavam em manobras especulativas e usufruíam chorudos salários. Lucros privados, prejuízos públicos. Uma vergonha. 

Em Portugal, a crise já está instalada, a cada dia que passa mais se torna evidente a sua enorme dimensão, (a última 6ª feira negra é prova). A situação não se compadece com actuações demagógicas e eleitoralistas, de efeito nulo no curto prazo e que, só podem vir agravar a situação das empresas, consequentemente colocar em causa milhares de postos de trabalho, fomentando mais desemprego e lançando milhares de famílias numa situação ainda mais grave do que aquela que já vivem. 

A actuação dos responsáveis europeus não podia ser mais irresponsável, primeiro reuniram a quatro, Alemanha, Inglaterra, França e Itália. Depois a 15, os do clube do euro. É assim a tal Europa Unida que eles falam. Quem pensa que ela existe, que ponha aqui os olhos. Melhores provas parecem difíceis de conseguir.

Há cerca de um mês, ao olhar para as páginas interiores de um jornal nacional, descobri uma pequena notícia que dava conta de o desmoronamento de parte do tecto do edifício onde funciona o Parlamento Europeu em Estrasburgo, que foi inaugurado há menos de dez anos. Adiantava ainda, que enquanto tal situação se mantivesse as sessões seriam transferidas para Bruxelas. Tão discreta noticia, deixou-me algo surpreso, mais a mais, tendo em conta o sensacionalismo da maioria da imprensa. Esperei desenvolvimentos, mas não, absolutamente nada. Só através de um artigo da deputada Ilda Figueiredo, tomei conhecimento de que se a queda do tecto tivesse acorrido em dia e hora de funcionamento, teriam morrido mais de trinta pessoas. Sabe-se que até este momento não foram esclarecidas as causas, que parecem resultar de deficiências dos materiais utilizados e da falta de fiscalização.

Considero estranha a atitude silenciosa da imprensa. E daí, talvez não. Afinal, trata-se apenas de o desmoronamento de um tecto...

O que é uma bagatela comparado com o terramoto que vai por esse mundo fora. 

Carlos Vale - Membro da DORCB do PCP