Covilhã soma e segue

Se há matéria em que se acentua a descredibilização do regime democrático é na evidente e escandalosa promiscuidade entre o poder político e o poder económico. Contudo, se há coisa que em democracia não pode ser tolerada é que a defesa de interesses privados e não legitimados pelo voto não se pode misturar com a defesa do interesse geral, que vem precisamente de se ser eleito pelo voto. 

E a razão é clara: a defesa do interesse da sociedade, de todos os cidadãos, que representa o desempenho de um cargo político não deve entrar em conflito nem ser posto em causa pela defesa de interesses particulares de uma empresa ou de uma instituição.

Esta regra, que é inerente à democracia parlamentar representativa, tem sido olimpicamente ignorada nos últimos anos, quer no plano nacional, quer no plano local.

Pelas nossas bandas, sabe-se agora que depois de uma exposição do PCP ao Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco, o presidente de junta de freguesia de S. Jorge da Beira que é em simultâneo gerente de uma empresa que presta serviços aos antigos SMAS, hoje empresa municipal Águas da Covilhã, foi constituído arguido num processo que, em última instância, pode originar a perda de mandato. Confrontado com a situação, o presidente de junta diz que só lhe foi dito que não podia fazer negócios com a freguesia e segundo ele, nunca fez… o presidente concelhia do PSD veio afirmar que o PCP quer ganhar na secretaria, que o PCP arrisca-se a ser o campeão das causas perdidas…enfim, tolices, desde logo, porque em matéria de causas perdidas, o PSD já leva uma vantagem de 4 a zero.

Mas o que é ilustrativo é que, quanto à questão de fundo nem uma palavra. Ou seja, para estes dois, é possível de manhã ser-se presidente de junta, à tarde fazer negócios com o município e à noite, quem sabe. Tudo pacífico e normal. Tão pacífico e normal que este presidente de junta nem sequer hesitou em votar favoravelmente a privatização da empresa Águas da Covilhã…afinal, é compreensível, não se morde a mão que nos dá de comer!

De acordo com a lista disponível no site da direcção geral das autarquias locais, a Câmara da Covilhã, no final do quarto trimestre de 2007, demorou em média 382 dias a liquidar o pagamento aos fornecedores, sendo o 12 pior município. A Câmara do Fundão é um dos municípios com informação em falta.
Não fosse o assunto sério, e seria caso para dizer que a Covilhã soma e segue.

A serem correctos os dados da DGAA, e tudo indica que sim, uma vez que os cálculos são efectuados com base em fórmulas conhecidas e com dados fornecidos pelos próprios municípios, a conclusão que se pode retirar é que o Presidente de Câmara mentiu aos eleitos e covilhanenses quando assembleia após assembleia jurava que a Câmara era uma das mais cumpridoras….ou então fomos nós que não percebemos…isto é, pagar a câmara paga…só que paga tarde….enfim, uma vergonha e um sinal da delicada situação financeira da CMC que se prepara para contrair mais um empréstimo, para pagar a tempo e horas.

Perante tudo isto, eu acho é que já é tempo e hora de romper com esta política e com estes protagonistas!

6 de Maio de 2008

Jorge Fael