ENCOSTOS

Imprimir

Os que vivem à sombra de Estado e a sombra do Estado

Desde já informo, que de encostos, a minha experiência é bastante limitada, o único que tenho e não prescindo é o “meu” querido sofá, devido aos jeitos que ele me faz.

Estava o Presidente da República longe de pensar que quando criticamente censurou os empresários que vivem à sombra do Estado e da “permuta de favores” com o poder, que a resposta viesse tão nua como crua, com a notícia da recusa dos empresários figurarem numa lista de credores do Estado, a que só aderiram, “heroicamente”, apenas 3 credores.  

Quem sou eu para duvidar da justeza das suas palavras, tanto mais quando se trata de uma personalidade que além de ter ocupado altos cargos partidários, ocupou lugares de relevo em governos, foi primeiro-ministro em dois mandatos consecutivos e que, mais recentemente, foi eleito para o mais alto cargo da Nação.

Perante o conhecimento e a experiência acumulada e, certamente, da confiança que lhe mereceu o estudo da autoria dos dois economistas alemães, que serviu de sustentação teórica, para analisar os que fazem depender o sucesso das suas empresas encostados ao Estado, não restam dúvidas de que sabe do que está a falar.

Só que, ao saber-se o volume da verbas que o Estado deve aos empresários e que atinge a fabulosa importância de 3 mil milhões de euros, várias leituras são possíveis, uma delas até pode ser a seguinte: Afinal, quem vive à sombra de quem?

Outra pergunta é o porquê da grande maioria dos empresários decidirem ficar calados e não fazer parte da lista de dívidas a receber do Estado, quando os atrasos do Estado chegam aos 60 meses. Ao que parece, umas das razões é recearem represálias e perderem os próximos concursos públicos, quando tinham condições para os ganhar ou, serem indevidamente preteridos em futuras transacções, o que ajuda a compreender as razões que os fazem depender de viverem encostados ao estado, já que segundo o estudo dos economistas alemães, Portugal, juntamente com a Grécia, é um dos países com “dificuldades estruturais muito fortes”.

Algumas razões evocadas têm razão de ser. Ao longo de anos uma empresa que se especializa em determinados produtos e o seu cliente mais importante é o Estado, se não se “portar bem” pode estar a colocar em causa o futuro da empresa e dos trabalhadores, o que ajuda a compreender a posição de alguns empresários, mas não explica tudo. A possibilidade de critérios baseados na arbitrariedade, tráfico de negócios em nome do Estado, não ajuda a transparência destas transacções.

Um estudioso italiano, Roberto Dell`Anno, publicou estudos que aprofundam o estado da corrupção em Portugal, que parece atingir dimensões consideráveis. Perante um problema que ameaça minar a sociedade portuguesa, é imperioso a tomada de medidas.

Tendo em conta que estes comportamentos não se limitam à área do poder central, constantemente a imprensa noticia este tipo de “encostos” em áreas do poder local e outras instituições, estes estranhos silêncios não são um bom sinal.

“Prós e Contras” passou a “Conversas em Família”

Já aqui teci algumas considerações ao programa “Prós e Contras”, que baptizei, desde logo, de “Prós e Prós”, já que, em geral, os convidados pertencem quase sempre à mesma família ideológica e social. Se não são todos dos “Prós” estão sempre em grande vantagem, o que vai dar ao mesmo. Chega a ser uma afronta à inteligência das pessoas.

A última vez que tal aconteceu, a coisa raiou a provocação. No palco, os quatro presidentes dos maiores bancos portugueses, Faria de Oliveira (CGD), Ricardo Salgado (BES), Carlos S. Ferreira (BCP) e Fernando Ulrich (BPI). Na plateia, tudo era igual. O contraditório foi completamente excluído, estavam como “peixinhos na água”. Era tudo sorrisos de gente tranquila e confiante, cuja crise não passa lá por casa. Coisa que a grande maioria dos portugueses não goza.

O assunto em discussão era a decisão do Governo de endossar um aval no valor de vinte mil milhões de euros á banca portuguesa para fazer face à crise.

Ficámos a saber que a banca nacional está bem e recomenda-se, que os malandros que fizeram as trafulhices que prejudicaram o sistema financeiro são todos lá de fora. Que este aval era uma espécie de transfusão para ajudar as famílias que mais precisam, as empresas e o desenvolvimento do País. Tudo a Bem da Nação. Tudo por altruísmo!      

No blá-blá costumeiro nada disseram sobre os 8 mil milhões de lucros líquidos, que só estes 4 bancos, arrecadaram nos últimos quatro anos, à razão de 8 milhões de euros por dia, sugados às famílias, às pequenas empresas, em juros e criativas comissões.

Nem mesmo Fátima Campos Ferreira se lembrou de perguntar onde é que eles meteram esses lucros…O programa não foi feito para isso. Para quê discutir bagatelas?

Carlos Vale - Membro da DORCB do PCP