2009: O ano que ninguém desejava

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A crise que insistiam em negar, está aí e veio para ficar. Apesar de haver quem alertasse que mais tarde ou mais cedo a “bolha” rebentava, o triunfalismo reinante exercido pelo poder económico e também pelo poder político da sua confiança só tinha olhos para a partilha do dinheiro fácil obtido através de jogos financeiros fraudulentos que contavam com a preciosa ajuda ou omissão conivente dos organismos fiscalizadores e reguladores, fossem ele privados ou públicos.

Perante o cenário devastador, 2009 passou a ser o ano de todas as desgraças. Até o “optimista mor”, J. Sócrates, que sempre negou a crise, de um momento para o outro, acabou por afirmar que 2009 representava a dobragem do Cabo das Tormentas.

De súbito, 2009 passou a ser um ano difícil. Tão difícil, que ninguém o desejava. Com o aproximar da quadra natalícia e das festas do Novo Ano, comediantes, cartoonistas, escritores, realizadores, jornalistas e muitos outros intervenientes dedicaram muito do seu trabalho e da sua criatividade ao ano de 2009. Bastante utilizado foi o anedotário nacional que saiu substancialmente enriquecido O tema contou igualmente com a contribuição da tradicional graça e sabedoria popular, património do nosso povo. Houve quem, com elevado e oportuno sentido de humor, “festejasse” a entrada em 2010. Argumentavam que era uma hipocrisia desejar como bom o que se sabia, ir ser mau. Percebemos e naturalmente também nos rimos!

Todavia, qualquer que seja o nosso desejo, 2009 existe. Ele aí está. Terá, como os outros, 365 dias, 52 semanas e 12 meses. Para muitos, 12 dramáticos fins de mês.

Humor à parte, uma coisa é certa 2009, é um ano importante. Não só, porque vai ser necessário dar resposta aos problemas e necessidades dos que mais precisam, assim como para apurar as responsabilidades dos verdadeiros autores da “economia de casino”, que causou graves distorções económicas, financeiras e sociais que estão na origem da maior e mais grave crise que há memória na economia portuguesa e que tantos sacrifícios custaram e vão continuar a custar á grande maioria da população.

Por outro lado, 2009 é ano de eleições. Por três ocasiões os portugueses vão poder rever as suas anteriores escolhas para o Parlamento Europeu, para a Assembleia da República e para as Autarquias Locais. São três oportunidades que os cidadãos eleitores têm para alterar muitos dos factores que levaram ao agravamento da qualidade de vida, à perda do poder de compra, de direitos sociais, na saúde, na educação e na justiça e com a sombra do desemprego a pairar, permanentemente, sobre as suas cabeças.

Em 2009, é tempo de parar com a política de mentira de Sócrates e das promessas não cumpridas. Em oito anos, Portugal não mais parou de descer no barómetro das desigualdades e das injustiças sociais. É tempo de parar de se justificar com a mentira descarada de que é a crise internacional a culpada de tudo o que está acontecer, quando ainda pouco tempo antes, a negava. O que ele pretende é esconder o facto incontestável de que muito antes de ser declarada a crise internacional, já o seu Governo tinha mergulhado o País numa grave crise económica e social, assim como quer justificar que é a mesma a culpada de todas as medidas gravosas que se prepara para aplicar.

A verdade é que a política de Sócrates seguiu as dos anteriores governos, cujo objectivo essencial foi a defesa dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros contrária aos interesses nacionais e penalizadora dos interesses de quem trabalha ou vive das suas pensões ou reformas, a quem sempre recusou qualquer ajuda.

Ao contrário, como factos recentes provam e como por magia, milhões e mais milhões apareceram para resolver os problemas dos ricos, para salvar bancos falidos, para tapar buracos sem fundo, na sequência de falcatruas, que constituem verdadeiros casos de polícia. Para uns, tudo. Para outros, só dificuldades. Será que crime compensa?

Seguiu-se a famosa a intervenção natalícia do primeiro-ministro, que superando-se a si mesmo, revelou uma imaginação sem limites para o auto elogio dos seus “feitos” e ao puxar para si próprio, a baixa da taxa de juro para a compra da habitação, quando todos sabem, não ser da sua competência. Os portugueses não são estúpidos…

Obviamente, que a participação democrática não se esgota com a realização de eleições. Os portugueses sabem-no muito bem e têm-no demonstrado no terreno, ao participarem activamente em muitas das lutas levadas a efeito até ao momento, lutando por melhores condições de vida e evitando males piores.

O que já se sabe sobre o aumento do desemprego, do aumento das dificuldades para milhares de famílias, dos aumentos dos preços já anunciados, energia, portagens, pão e também, o aumento do preço da água com que a Câmara de Castelo Branco “brindou” os albicastrenses, não augura nada de bom para a vida dos portugueses.

Por tudo isto, 2009 representa uma grande oportunidade para mudar de rumo.

Carlos Vale - Membro da DORCB do PCP