O Partido Comunista Português celebra 87 anos. É já uma longa e bonita idade, mas é, de facto, bastante curta para a concretização da ambição colectiva de um Portugal mais justo, fraterno e solidário.
È certo que ao longo deste caminho de construção de um melhor futuro para Portugal se conquistaram e perderam direitos fundamentais da matriz fundadora do socialismo. Deram-se passos em frente, mas também passos atrás. Fomos oprimidos por uma ditadura, mas conquistamos a liberdade e a democracia. Mas será isto suficiente? Será que o último século trouxe progresso e bem-estar para todos? Será que hoje, no tão citado mundo da globalização e da era das novas tecnologias, já não existe razão para a luta contra a exploração? Será que faz sentido resistir e não mudar de rumo no propósito da transformação da sociedade capitalista? Será que faz sentido, será que continua a fazer sentido, este partido. Será que continua a valer a pena pertencer a este partido?
A realidade que vivemos hoje é claramente diferente daquela que se vivia em Portugal em 1921. Por isso este partido hoje é, teria que ser, diferente daquele que foi fundado nessa data. Da mesma forma que é diferente daquele que resistiu à ditadura ou do que deu o contributo fundamental para a construção da democracia. Porém ele só é diferente, só tem que ser diferente, porque as circunstâncias exigem abordagens diferentes na resposta às mesmas grandes questões de sempre.
Poderá parecer simplista, mas a grande questão é que a sociedade em que vivemos é uma sociedade injusta. E a raiz dessa injustiça está hoje, tal como estava em 1921, em 1917 aquando da revolução de Outubro, ou 1848 quando Marx escreveu o Manifesto Partido Comunista no facto de que a riqueza de uns poucos se basear na exploração do trabalho de muitos.
A uma questão simples só pode ser dada uma resposta simples. E essa resposta é a construção de uma sociedade de homens e mulheres iguais à qual o conceito e a prática da exploração de um homem por outro homem sejam completamente estranhos.
A História tem-nos mostrado que o levar à prática desta ideia justa e nobre não têm sido, de forma nenhuma, linear. Pelo caminho cometeram-se, por vezes em nome da justiça, profundas injustiças.
Porém, no longo devir da humanidade, a derrota da experiência da construção do socialismo, bem como os seus erros, não serão mais do que um episódio. E essa construção de uma nova sociedade, pela primeira vez baseada na justiça, terá necessariamente que ser retomada.
Este caminho não nos mostra, agora e aqui, que a revolução estará de certeza aí ao virar da esquina, mas tenho a certeza que só por este caminho se fará a história. Apesar do repetidamente afirmado pelos propagandistas do consumismo e do ultra-liberalismo, de várias partes do mundo chegam-nos sinais de que, não apenas não chegamos ao fim da história, como também talvez já não estejamos na fase de retrocesso. Aceleram na América Latina experiências que apontam para caminhos alternativos. Na própria União Europeia vemos que, num pequeno país, como Chipre, um povo ousa eleger um presidente comunista. Em Portugal, as ruas enchem-se de pessoas indignadas e dispostas a lutar por uma mudança de políticas.
Mas a vida, o nosso dia a dia de cidadãos e de trabalhadores portugueses exige respostas políticas adequadas. Será que essas respostas só podem ser dadas, aqui em Portugal, pelo Partido Comunista? Não necessariamente. Mas, o que de facto se verifica é que o Partido Comunista Português é quem corporiza esta ânsia de mudança, esta necessidade de justiça. Por isso nos tempos que correm o Partido Comunista, não apenas faz sentido, como a sua existência como partido forte e coeso é uma necessidade e uma exigência do povo português.
Por isso faz sentido tomar partido. Por isso vale a pena estar neste partido.
Quando os direitos fundamentais conquistados com anos de luta estão em perigo; faz sentido tomar partido. Vale a pena estar neste partido.
Quando os poucos ricos deste País são cada vez mais ricos e a pobreza afecta cada vez mais portugueses; faz sentido tomar partido. Vale a pena estar neste partido.
Quando ao Interior desertificado se retiram serviços agravando as já difíceis condições de vida dos que por aqui sobrevivem; faz sentido tomar partido. Vale a pena estar neste partido.
Quando a corrupção alastra e alguns fazem do erário público a sua “manjedoura” privada; faz sentido tomar partido. Vale a pena estar neste partido.
Quando os direitos fundamentais do exercício da participação democracia são violados; faz sentido tomar partido. Vale a pena estar neste partido.
Quando homens e mulheres, novos demais para a reforma, mas velhos demais para procurar novos empregos são sacrificados na voragem do ultraliberalismo; faz sentido tomar partido. Vale a pena estar neste partido.
Quando tudo é sacrificado no altar da redução do deficit imposto pela Europa dos monopólios; faz sentido tomar partido. Vale a pena estar neste partido.
São muitas as razões que reclamam pela urgência em tomar partido.
Eu fico-me por aqui, terminando com um pequeno poema onde, em apenas 444 caracteres, o genial e saudoso Ary dos Santos sintetiza a razão de ser desta opção política
Tomar partido é irmos à raiz
do campo aceso da fraternidade
pois a razão dos povos não se diz
mas conquista-se a golpes e vontade.
Cantaremos a força de um país
que pode ser a Pátria da verdade
e a palavra mais alta que se diz
é a linda palavra liberdade.
Tomar partido é sermos como somos
é tirarmos de tudo quanto fomos
um exemplo um pássaro uma flor
Tomar partido é ter inteligência
é sabermos em alma e consciência
que o Partido que temos é melhor.
Fundão, 7 de Março de 2008
Luis Lourenço