Amigos e camaradas.
Estar neste espaço, faz-me evocar, com algum sentido histórico, o que aqui existia há mais de 50 anos: um quartel de cavalaria que preparava homens para combaterem numa guerra colonial injusta e anacrónica. O 25 de Abril tirou o país desse beco sem saída, para onde o fascismo tinha empurrado o povo e a juventude, pelo culto falacioso de uma grandeza imperial do passado, inculcada e manipulada sobre tantos portugueses, por interesses até de potências estrangeiras, obrigando-os a combater, desde 1961, contra os indómitos guerrilheiros que lutavam pela libertação nas
colónias africanas.
Foi também nesta cidade que votei pela primeira vez para a Assembleia Constituinte, em 1975, quando prestava serviço militar, já tendo como horizonte a paz, e integrado numa secção de dinamização cultural do Regimento de Infantaria desta cidade, ligada à 5.ª Divisão do EMGFA, que muitos recordam bem. Foi então que conheci a Beira Baixa até aos últimos e mais recônditos lugares, do Tejo à Serra da Estrela, da raia de Idanha e Penamacor até ao Pinhal, andei num camião militar na distribuição de sal iodado para ajudar a erradicar a doença endémica do bócio, em Vila Velha de Ródão e Proença-a-Nova e assisti ao desabrochar da grandiosa criatividade do nosso povo, liberto dos grilhões de uma ditadura fascista anacrónica e colonialista que o oprimiam. E conheci melhor a sua riqueza cultural e humana que partilho e com a qual me identifico como beirão. Foi aqui que passei o verão em brasa de 1975 e assisti ao seu arrefecimento a partir de Novembro.
Contudo, meses depois, em 1976, era aprovada a Constituição. Essa criatividade manifestou-se na criação de comissões de moradores que tentaram e conseguiram iniciar a resolução de problemas de habitação e que averbaram nessa luta, vitórias, mas que os sucessivos governos de direita foram combatendo. O problema da habitação ainda é uma urgência para a qual a CDU propõe medidas de resolução em que o investimento público é essencial.
Assisti também às lutas dos trabalhadores que se propunham cumprir o que a Constituição que estava a ser elaborada, lhes reconheceria, como, gerir, pelo controlo operário, as empresas onde trabalhavam, reconhecendo ao factor trabalho, o mérito e o correspondente direito, porque factor essencial na produção. E a luta pela transformação e melhoria das condições de vida, através de greves por aumentos salariais. Tais lutas continuam e vão continuar, enquanto as políticas de direita, forem ditadas no interesse absoluto do capital, quer de Lisboa, quer de Bruxelas.
Conheci então a Beira Baixa na sua unidade e diversidade paisagística, a sua riqueza geológica e mineral, florestal, onde crescem espécies diversas e todas valiosas, do ponto de vista ecológico e económico, agrícola, com culturas de regiões temperadas e mediterrânicas, de sequeiro e de regadio (e o que falta ainda fazer nesta área!). Esta riqueza global do território está, em larga medida, bloqueada, porque bloqueados os mecanismos que permitiriam o desenvolvimento da maioritária agricultura familiar, que vive no fio da navalha, mas também formas de cooperativismo que permitiriam o relançamento de uma nova reforma agrária do século XXI. Esses bloqueios existem por causa da ditadura dos grandes merceeiros (a distribuição) e do agronegócio que se abotoa com a parte de leão dos subsídios. Assisti então, em 1975, a essas tentativas primeiras de desenvolvimento a partir da iniciativa de trabalhadores dos latifúndios a sul, mas também a norte da Gardunha, e ao estiolamento do sonho que, no entanto, continua vivo. Ainda conheci o estado medieval em que se encontrava o mundo rural, tanto nas zonas de latifúndio, onde o senhorialismo feudal reinava, mas também a miséria da zona do Pinhal, onde o normal era um médico ou dois, em cada concelho, e a electricidade
passava sobre as aldeias em linhas de alta tensão, mas as casas eram iluminadas a candeeiros de petróleo. Muitas aldeias estavam a ficar desertas, porque a emigração era uma saída dessa miséria.
As estradas eram poucas e más. Claro que ainda não se ouvia falar de portagens. Esse negócio rentista, uma exacção de cariz medieval é outo bloqueio à nossa região e a luta até à sua anulação não vai parar. Em alguns concelhos chegava-se apenas à 4.ª classe, outros estudos, só na capital de distrito, na Covilhã e vilas maiores. Após Abril, assistimos ao desenvolvimento da escola pública, ao alargamento da escolaridade obrigatória, à criação de estabelecimentos de ensino de todos os graus e especialidades, uma universidade e um instituto politécnico, milhares de alunos e o elevador social e desenvolvimento que o ensino propicia é uma das grandes conquistas. Vale a pena lutar pelo seu desenvolvimento e
valorização dos seus actores.
Tal como o Serviço Nacional de Saúde que começou a ser construído pela luta dos seus profissionais, desde os médicos aos assistentes operacionais. Assisti ao seu início, à criação de comissões de trabalhadores nos hospitais do distrito. O seu reforço e manutenção, na actualidade, tem ao lado a CDU para apoiar e lutar.
As conquistas de Abril que referi, construídas com lutas e sacrifícios, o regime democrático, na sua orgânica, onde incluo o poder local, são para defender. Abril constrói-se e defende-se todos os dias. Abril, são estas conquistas mil. Basta comparar dois tempos. Passaram 50 anos e a diferença é abissal, para melhor. Dizer que antes de Abril, Portugal era grande, tinha ouro, era rico (a elite podia ser, mas o povo era pobre), é ser míope e não reconhecer o que o poeta Ary dos Santos descrevia:
«…um país, onde entre o mar e a guerra, vivia o mais infeliz dos povos à beira-terra (…) um povo se debruçava como um vime de
tristeza, sobre um rio onde mirava a sua própria pobreza (…)»
Em 25 de Abril, com o Movimento das Forças Armadas e outros lutadores que, na clandestinidade, lutavam e sofriam, eram presos e tantas vezes pagaram essa coragem com a própria vida. Os sacrifícios e as lutas dessas pessoas corajosas conseguiram derrubar o fascismo. São um exemplo. Ary dos Santos também descreve esse dia:
«… Foi então que Abril abriu as portas da claridade e a nossa gente invadiu a sua própria cidade. Disse a primeira palavra na madrugada serena, um poeta que cantava, o povo é quem mais ordena (…)»
Se o Partido Comunista Português e outros democratas, (tantos!) conseguiram essas vitórias, eu pergunto, quem agora poderá fazer melhor na luta para travar a direita mentirosa e manipuladora, portanto, perigosa, do que nós próprios?
Por isso, é imperioso votar CDU. Levem a mensagem para a rua.
Viva a CDU!