Camaradas e amigos,
Enquanto nas televisões procuram traçar o resultado das eleições legislativas para que fique tudo na mesma, por todo o país, e em particular no distrito de Castelo Branco, aprofundam-se as dificuldades e injustiças na vida da juventude que sabe e diz: é preciso mudar de política.
Nas escolas secundárias, somos confrontados com a degradação das infraestruturas, como é o caso da Escola Secundária Amato Lusitano, aqui em Castelo Branco. Numa outra escola, a Secundária da Quinta das Palmeiras, na Covilhã, os estudantes passam frio. Por todo o lado, há falta de professores, psicólogos ou funcionários. E ao mesmo tempo que se apregoa a falta de interesse dos jovens pela política, limita-se a democracia e são cada vez mais os bloqueios à participação e organização dos jovens. As Associações de Estudantes são mercantilizadas, perdem autonomia, são desvalorizadas ou mesmo impedidas, como é o caso da Escola Básica Afonso Paiva, onde os estudantes, tendo vontade de criar a sua Associação, não o podem fazer por serem “demasiado novos” ou na ETEPA, por ser uma escola profissional. Na Escola Secundária Frei Heitor Pinto, a direcção da escola proibiu as listas para a Associação de Estudantes de incluir músicos e artistas na sua campanha.
Os Exames Nacionais mantém-se como um entrave de acesso ao Ensino Superior e aprofundam o fosso entre os que estudam em escolas com condições, têm dinheiro e tempo para aprender, para explicações ou para ir a museus, dos que não têm. Falta comida nos bares e cantinas. Na Escola Secundária Campos Melo, apesar das obras terem sido recentemente prometidas, fruto da luta e acção dos estudantes e da comunidade escolar, foi anunciada a privatização da cantina.
Na Universidade da Beira Interior e no Instituto Politécnico de Castelo Branco, a propina continua a ser uma barreira para muitos estudantes e junta-se aos restantes custos, como alimentação, alojamento e materiais. Foi prometido por este governo a devolução do valor da propina a todos os estudantes que completarem os estudos. Um ano de propina por cada ano a trabalhar em Portugal. Com isto, só provaram, mais uma vez, que afinal há dinheiro, e que a propina não é necessária, apenas uma ferramenta de elitização do ensino.
Na UBI as 808 camas em residências públicas não chegam para os 9000 estudantes, não perfazendo nem 10% da massa estudantil da UBI da qual a grande maioria é deslocada. Assim as famílias vêm se confrontadas com o drama de encontrar casas no mercado do arrendamento deixando milhares de famílias e estudantes reféns dos preços que lá se praticam.
Acresce a isto a falta de transportes públicos onde, paralelamente ao aumento dos preços os horários são extremamente limitados. São precisos transportes públicos que permitam um real direito à mobilidade, o direito dos jovens a aceder à educação, à cultura, ao desporto e ao lazer. É preciso investir na ferrovia e criar um passe regional, como a CDU defende que abranja todas as modalidades - comboio e autocarro e gratuito para a juventude.
Aos jovens falta tempo para viver, espaços para o desporto e a cultura. Enquanto se fala em instabilidade política, os jovens trabalhadores sentem a instabilidade, os baixos salários e a precariedade todos os dias. Muitos trabalham sem contrato, outros trabalham horas extras mal ou não pagas, e outros tantos vêem os seus direitos laborais e liberdades sindicais atacados com regularidade.
Conhecemos estes problemas, não apenas das televisões e das redes sociais, mas porque estamos ao lado da juventude todos os dias, esclarecendo, unindo e mobilizando. Não ficamos parados e, fazendo face a todas as dificuldades, não deixamos de ver as enormes potencialidades da luta da juventude, tomamos a iniciativa e vamos ao contacto, para saber mais, descobrir mais jovens dispostos a lutar contra a injustiça e por uma vida melhor.
Sabemos que ainda temos muito para caminhar. Mas uma coisa é certa: por mais difícil que seja o caminho, enquanto houver jovens que não se resignam, que não aceitam a injustiça e que se recusam a desistir dos seus sonhos, que assumem tarefas e têm a coragem de tomar Partido. Enquanto houver aqueles que se levantam e unem em defesa do seu país e da sua terra, pelo direito a sermos livres e felizes, há futuro.
Amigos e camaradas, posso-vos dizer que desde o 1º ao 12º ano fiz muitos amigos e conheci muitos jovens. De todos eles apenas uma pequena minoria se encontra no distrito. Tenho muitos amigos que acabaram o secundário e começaram logo a trabalhar e que entretanto foram para as grandes cidades do litoral ou mesmo para o estrangeiro como Estados Unidos da América ou Suiça, para fugir aos baixos salários e procurar uma vida melhor. Tenho outros que foram estudar para as grandes cidades e que não mais voltaram, ou que tendo estudado na UBI também foram para as grandes cidades, pois por lá se arranja emprego qualificado na sua área de estudos, emprego qualificado esse que no interior e no distrito de Castelo Branco escasseia. E posso também dizer-vos com segurança que todos os jovens que conheço já pensaram por diversas vezes na emigração, para irem receber salários que os valorizem e valorizem o trabalho por eles realizados. Posso aliás dizer-vos que soube ainda esta semana que uma amiga minha vai para a Dinamarca trabalhar. Por estes motivos temos de ir ao contacto e ao esclarecimento, e sempre que conversarmos com um jovem, perguntemos-lhe pelos amigos que foram embora e mostramos-lhe que a realidade não precisa de ser assim e que se o salário mínimo aumentasse como defende a CDU, talvez os jovens pudessem levar uma vida mais digna e não se sentissem empurrados a abandonar o distrito e país .
Sempre que conversarmos com um trabalhador perguntemos-lhe pelos filhos e sobrinhos que foram embora e mostremos-lhe que a realidade não precisa de ser assim e que se desenvolvêssemos o aparelho produtivo como a CDU defende talvez os jovens encontrassem trabalho qualificado e que pagasse ordenados dignos no distrito e país.
E quando contactarmos com idosos perguntemos pelos netos e por onde andam e mostramos-lhe que a realidade não precisa de ser assim e que se houvesse um combate sério à precaridade, e a garantia de que a cada posto de trabalho permanente corresponde um contrato de trabalho efectivo como a CDU defende talvez as famílias pudessem continuar juntas e ver-se com mais frequência do que uma ou duas vezes por ano nas festas.
Amigos e camaradas, cabe-nos a nós voltar a dar esperança ao distrito e mostrar que as coisas não têm de ser assim. Porque pelo que sei, nenhum tribunal condenou a nossa juventude a deixar o distrito. Porque da última vez que confirmei, numa democracia a realidade é construída pelo povo, mas para isso é preciso esclarecer e apresentar a alternativa que urge ser implementada para revertermos a situação calamitosa em que se encontra o distrito e o país e voltarmos ao trilho de onde nunca devíamos ter saído, para voltarmos ao trilho de Abril.
A luta continua! Viva a CDU!